BOAS MÚSICAS E FUNCIONALIDADE DO REPERTÓRIO
Um amigo no Orkut, Gustavo, me fez uma pergunta pessoal sobre músicas boas para se tocar num show de blues e achei que isso daria uma ótima matéria sobre o tema.
Acredito que, por um lado, "música boa" é questão de gosto pessoal e é frequente ter conflitos, pois depende de muitos fatores, como o humor do dia, por exemplo.
Como músicos a gente começa a ter noção "técnica" do que é bem executado ou não, mas não dá pra dispensar o fator "prazer", que depende do que eu acabei de citar no parágrafo anterior. Outro ponto é convencer a banda (leia-se "fazê-los curtir") da validade da escolha.
ORGANIZAÇÃO
Algum planejamento é necessário pra escolha do repertório:
a. variedade de "clima" das músicas (lentas x rápidas x estilos diferentes de blues)
b. músicas com intro "chiclete" fáceis de assimilar/tocar.
c. músicas fixas (obrigatórias em todo show)
d. toda a banda tem que concordar com o repertório. Não precisam todos gostarem de todas as músicas (algumas concessões devem rolar), mas todos tem que se empenhar.
O item a é para o show não ser monótono e direcionar a platéia para a intenção da banda.
O item b é para criar empatia e vale para divulgar os clássicos.
O item c é para fixar uma identidade musical e ajuda cativar a audiência (não me refiro aos amigos e parentes que entram de grátis), garantindo tocar mais vezes no mesmo lugar.
O item d é autoexplicativo.
As músicas não fixas deixam oportunidade para testarem o que funciona ou não entre vocês e os obriga a sempre se renovarem. Já passei por músicas que não passaram de uma apresentação ou nem foram tocadas, mesmo depois de vários ensaios antes.
Claro que entram outros fatores, como trabalhos próprios x covers/versões.
Ter à mão a lista do repertório (set list) para cada show e seguir à risca. Deixe com o baterista ou cada um tenha uma, mas sigam à risca para evitar surpresas. Inclua título, tom que vocês tocam e autor/intérprete da música.
É bom ao menos informar a platéia de quem é uma ou outra música. Por exemplo, antes de tocar anunciem "agora vai rolar canceriano sem lar, do Raul Seixas"; ou mesmo depois: "Essa foi I want to be loved, do Muddy Waters". Entretenimento com informação... perfeito! Música própria então, eu prefiro deixar pra anunciar depois de tocar, para surpreender e ver a reação das pessoas antes.
IMPROVISO
Nem toda música tem que ter solo de guitarra, nem toda música tem que ter solo de gaita, nem toda música tem que ter vocais e nem toda música tem que ter qualquer solo (uma intro "chiclete" já tá valendo).
No ensaio é bom experimentar: vale ter solo de gaita e de guitarra, mas na versão oficial ter solo só de um deles. Ajuda a prevenir situações, como por exemplo a corda da guitarra arrebentar bem na hora do solo e aí fica pro gaitista segurar a barra. Uma vez engasguei com saliva e tive uma crise de tosse, só tendo tempo de sinalizar pro guitarrista se virar. Voltei a tocar duas músicas (ou uma cerveja) depois.
DURAÇÃO
Planeje um show contínuo de 2 horas e, ao tocar, evite passar de 1h30min. A partir isso, a platéia começa a dispersar e você vai querê-la com sensação de que o show foi bom e querendo o próximo. Os 30 minutos restantes de música é sempre bom ter na manga, pois vai que a empolgação com um bom show não deixa parar, não é ? A última impressão é a que geralmente fica.
Se chegar a duas horas, você vai ver gente bêbada, falando alto e, em alguns lugares, alguns empolgados querendo subir ao palco e acabando com o clima planejado para o show (lembre-se do trabalho da banda e da responsabilidade em entreter bem os pagantes e agradar o dono do bar para garantir o retorno). Chegando perto do final da apresentação, anuncia-se o fim e daí pode começar a bagunça, ou não.
CONCLUSÃO
Essas dicas são para ajudar as pessoas a obter toda a tranquilidade de deixar o improviso apenas para o palco e se divertirem mais. A empatia do público é maior quando vê a banda se divertindo, tocando com segurança e não se exibindo. Ensaio é o lugar de experimentar e discutir, brigar, opinar e sacanear.